“Procura-se
macho para dirigir a nova Dodge Ram”. Somadas à primeira imagem dessa página,
as palavras desse anúncio que a DaimlerCrysler divulgou na internet já bastariam
para dizer muito sobre a picape em questão. De fato, pouquíssimos foram meus colegas
jornalistas que, em suas matérias sobre a Ram, conseguiram dizer mais do que esse
conjunto anúncio/imagem. À
primeira vista, é justamente a aparência que confirma a idéia de robustez emitida
pelo anúncio. As linhas do desenho inspiram formas de músculos e a enorme grade
frontal coroada com o carneiro montanhês, símbolo da marca, mostram que não se
trata de uma picape comum. Mas o que torna de uma vez por todas esse modelo especial
pode ser reparado – sem dificuldade nenhuma – ainda do lado de fora; estamos falando
das dimensões gigantescas desse monstro. São 5,78m de comprimento por 2,02m de
largura, números que fazem o então maior modelo comercializado no Brasil, a Ford
F-250 cabine dupla (por sinal, outro – lindo – monstro), se intimidar com seu
quase meio metro de comprimento a menos. A
Ram é a terceira investida da Dodge no mercado brasileiro. A primeira se deu de
1969 a 1976, com direito inclusive a uma linha de produção em São José dos Pinhais,
no Paraná. Em 76, com a crise do petróleo, os modelos da Crysler, famosos pelo
tamanho, já não atraiam mais e a marca optou por vender suas instalações à Volks
e abandonar o país. Em 1998, nova investida. A escolhida era a Dakota, picape
que deixou fãs clubes depois que, em 2001 parou de ser comercializada. Agora,
depois de 4 anos ausente do mercado brasileiro, a Dodge queria algo especial,
algo diferente, algo grande, muito grande, para voltar ao mercado brasileiro.
Aproveitando a alíquota zero para importação de automóveis do México – onde a
Ram é produzida – a Dodge não tinha mesmo melhor opção do que a Ram. Acontece
que todo esse tamanho tem lá seu peso. Em miúdos, essas dimensões pesam 3 toneladas.
Muito peso remete a carro lerdo e condução tosca, o que não é o caso dessa Dodge.
Para compensar o peso das dimensões gigantes, nada melhor do que um motor gigante.
E isso aqui não é problema já que o tamanho macro se estende até aos cilindros;
são 5884cm3 de cilindrada no motor seis cilindros em linha. Com turbo e intercooler
- este último que otimiza o rendimento do turbo pelo resfriamento do ar a entrar
no cilindro - a potência dessa picape bate nos 330 cavalos, alcançados a 2900
rpm. Entretanto, é taxa de compressão o número que talvez mais impressione; mesmo
com esses cilindros enormes (quase 1 litro cada), a taxa é de 17,2:1. Esse número
permite à Ram alcançar um torque de 83 kgmf já aos 1600 rpm, o que em situação
nenhuma deixa a Ram indisposta. Infelizmente,
no Brasil é vendida apenas a versão automática de 4 marchas. Nesse ponto, desagrada-se
aos mais machos, que sentem-se privados da sensação de domínio total sobre a máquina
e toda sua potência. Em contrapartida, para transferir a potência ao solo, são
oferecidas três opções de tração; 4x2 traseira, 4x4 (com 45% de tração no eixo
dianteiro e 55% no traseiro) e a oportuna 4x4 reduzida, todas de série. A seleção
da tração é eletrônica, feita por um botão no painel. Mas
um carro não é feito tão somente por números – macro números no caso da Ram. O
macho que topar o desafio de dirigir a Ram deve saber lidar também com as condições
que não aparecem em tabelas repletas de dados técnicos. Temos que lembrar que
o carro em questão é uma concepção estadunidense, e assim sendo, tem as características
daquele mercado. A mais marcante delas, é a suspensão exageradamente macia, motivo
de reclamações quanto a estabilidade em altas velocidades. Esse é um dos fatores
levaram a Dodge a instalar um dispositivo que bloqueia a injeção a 180 km/h. Internamente,
o acabamento da Ram não é dos mais apurados. O painel é simples, com textura única
e desenho humilde. Ao contrário do acabamento, ali dentro os instrumentos se destacam.
Há computador de bordo, indicador da temperatura do motor, pressão do óleo, carga
da bateria, temperatura externa e bússula. Itens de série também se destacam;
ar-condicionado, banco do motorista com regulagem elétrica, minicomputador de
viagem, além do câmbio automático. A etiqueta macro que a camionete evidencia
por fora repete-se aqui no interior, que comporta sem grandes dificuldades até
seis adultos. Lá
atrás, a caçamba – que já vem com lona marítima e revestimento de série – comporta
1634 litros, levando até uma tonelada de peso. A valentia do conjunto que forma
a máquina se mostra uma outra vez na capacidade que ele tem de rebocar 5 toneladas.
No Brasil
a Ram está isolada em um nicho de mercado. O modelo que mais se aproxima desse
nicho é a F-250 XLT top de linha, produzida na Argentina, e que vendeu 1.834 unidades
em 2004. A Ford pede R$ 108.000 pelo seu modelo, preço consideravelmente inferior
aos R$ 149.000 que a Dodge pede pela Ram. Ciente das vantagens do seu modelo,
a Dodge pretende vender no primeiro ano 400 unidades da Ram. São 400 machos que
vão ter o prazer de na sua garagem contarem com toda essa robustez! | |